Nasci em 1961. Hoje eu tenho dois filhos e três netos (mar/23). Ao observar os netos, hoje, lembro da infância dos meus filhos e me reporto à minha. Um tremendo túnel do tempo. Nessa conversa de hoje, quero trazer uma análise sobre propósito, como ele é, quando ele surge e como devemos vigiá-lo. Ah!! Inclusive, nunca é tarde para encontrá-lo. Muitas pessoas assumem seu propósito em idades avançadas - late bloomers - mas sempre há tempo para encontrar aquilo que nutrirá o teu coração.
Quando eu era pequena, meu grande prazer era estar na casa dos meus avós por parte de pai. Obviamente porque eu era tratada como uma princesa, tão paparicada, que eu mesma nos meus 6 anos de idade pude perceber que eles estavam prestes a me “estragar”. Mas foi lá que eu fui muito estimulada a ler, escrever, costurar, fazer crochê com a vó Maria e a com a Bivó Carolina. E lá estava o meu piano, aquele que me trouxe inspiração, criação, realização e a musicalidade que me dirigiram a vida. Esse contato com meus ancestrais, tão proximamente, foi de suma importância para a construção de minha natureza curiosa, versátil e artística. Sou muito grata por isso!
Mais tarde, já com meus filhos pequenos, eu observei que tanto na minha infância quanto na deles, em torno dos 5 a 6 anos de idade, podia observar a tendência profissional de cada um. Nessa idade, claramente algumas crianças apontam traços de personalidade ou artístico, mas não fomos (nós da minha geração) treinados a observar tais traços. Vou contar o caso deles e depois volto para o meu, pois graças à atenção que dei à minha trajetória fui capaz de observar a deles com mais foco. Pois bem, o mais velho gostava de desmontar máquinas e computadores por volta dos 8 anos, era muito curioso com tudo. Mas eu lembro nitidamente que por volta dos 6 eu inventei de “brincar de enciclopédia” com os dois filhos. Enfim… Na nossa casa na época ainda havia Barsa e Conhecer, aqueles livros enormes de papel de verdade na biblioteca (tempos jurássicos). O jogo consistia em abrir aleatoriamente uma página e ler o assunto daquele artigo da enciclopédia. O mais velho amava e brincávamos sempre. Pois bem, hoje é nerd de TI e estudou engenharia elétrica para ser engenheiro de Software. O mais novo não lia ainda e não se interessava por isso. No entanto, certo dia, ele devia ter uns 5 anos, não sabia nem ler nem contar e eu pedi que ele calculasse quanto dinheiro ele precisaria para comprar quatro pares de tênis de 30,00 cada (isso foi lá pra 1992, o tênis custava isso, aff). Ele deu seu jeito, somou e me deu o resultado 120,00. Nesse momento eu constatei suas tendências para vendas e comércio. Dito e feito. Trabalhou para mim vários anos como administrador dos meus negócios e hoje trabalha com E-commerce, vendas online e qualquer atividade que multiplique dinheiro. Além de ser um ótimo surfista e uma pessoa com necessidade de atividades físicas (temos uma máquina de remo dentro de casa, uma bike e duas pranchas de surf, por exemplo).
E como foi pra mim na minha infância? Como eu infernizei minha avó? Então… eu tinha 4 anos. Na verdade eu não me lembro, ela me contou. Como minha avó era professora de piano e dava aulas em casa (eu estava sempre por lá), eu ficava observando suas aulas e fiquei extremamente curiosa para aprender a tocar também. Disse minha avó que ela relutou em me dar aulas de piano pois minha mão era muito pequena ainda. Mas, eu a infernizei e ela começou a me ensinar. E eu me apaixonei loucamente. Confesso que até hoje tocar piano é uma das coisas que mais me conecta com a arte. Afinal, aprendi a ler bolinhas na pauta antes mesmo de conhecer letras e números. Aí começou minha saga de artista. Mas nada teria acontecido a seguir se eu não tivesse uma mãe, também artista que percebesse meu talento e paixão por aquilo. Minha mãe era cantora lírica e, graças a ela, minha carreira como cantora também aconteceu, graças ao seu apoio incondicional. Mas vamos voltar ao piano, depois eu conto mais detalhes da carreira de cantora. Foi o piano que me proporcionou uma infância equilibrada, harmoniosa e ocupada, pois eu passava muitas horas praticando na casa da minha avó. Graças ao meu envolvimento com uma atividade que exige disciplina, eu pude lidar bem com minha natureza agitada e eufórica. E muito mais tarde fui diagnosticada com hipotireoidismo e que era bipolar (isto eu conto em outro texto). O piano literalmente me salvou.
Observem a importância de se encontrar o que eu poderia já chamar de propósito. Sim, é na infância que descobrimos os nossos dons essenciais. Vamos chamar assim. Aqueles traços que podem reger toda a nossa existência. Muitas vezes os negamos. Muitas vezes a família os nega. E muitas vezes não prestamos a devida atenção a eles. Mas eu te digo: se você já é adulto, tente se lembrar do que você andava fazendo nessa idade entre 5 e 7 anos. Que tendências você tinha? Se não lembra, pergunte a seus irmãos e amigos, pais, primos. Geralmente nessa época aparecem nossos talentos essenciais, aqueles que serão usados e desenvolvidos na vida adulta. Vai lá! Tente descobrir!
A outra paixão que eu lembro dessa época era o desejo de ser famosa como a Ava Gardner (tirando seus vícios rsrsrs). Eu queria ser artista de cinema, atriz de Hollywood, mas via aquilo muito distante e acabei desistindo. Ora, ora… resumindo a história (que eu detalho em outro texto), eu comecei como pianista, depois me tornei cantora lírica, depois atriz de teatro musical, fiz participações na TV e estreei no cinema/streaming como atriz aos 61 anos.
Ou seja, não adianta fugir do seu sonho/talento/propósito, ele irá até você. E eu acredito muito em uma coisa: não lute contra o seu propósito, é ele que trará sentido para sua vida. Não será uma jornada fácil, mas será plena. Você pode não ficar rico financeiramente, mas ficará rico de realizações. Você pode entrevistar todas as pessoas que nunca desistiram de seus propósitos e todos dirão o mesmo. Sempre vale muito a pena.
Valer a “pena” é viver a “dor” de ser quem você nasceu pra ser.
Persista. Prepare-se. Quando você menos esperar, o bonde da sua carreira vai passar. Às vezes demora uns anos a mais do que você esperava, ou planejava, mas sempre vai chegar. Believe me!!
Ah!! Para ouvir, é só clicar! (Hoje a voz é emprestada da Monique! rsrs)
Mirna
Fez todo sentido pra mim! Quando criança morava em uma cidade bem pequena e as minhas únicas fontes de informação e cultura eram as viagens de férias pra casa dos avós, a Barsa e a televisão. (Não tenho nenhum músico na família). Eu sempre queria ir brincar na casa de um amigo, para ver a irmã dele tocar piano. Eu ficava hipnotizado com as mãos dela tocando. Ja na faculdade fiz teatro, com o grupo Bombom que se tornou o Armazém, no Rio. Tive que sair do teatro a pedido do meu pai. Me formei em arquitetura e depois de 25 anos, aos 45 anos, e com 3 anos de aulas de canto, em 2015, me inscrevi para o…
Me emocionei muitas vezes quando estava gravando o áudio deste texto. Fiquei pensando em mim enquanto artista, professora e também mãe... impossível não pensar nas características que o Ícaro já está apresentando, agora, com 5 aninhos...
Além de lembrar me mim mesma, com cinco anos, colocando uma faixa no cabelo e cantando, e dançando Luís Caldas enlouquecidamente! hahahhahahahhah