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Mentira e omissão


Eu tenho relutado muito em fazer parte da loucura das redes sociais. Como tenho comentado aqui nos meus textos, quando eu assisti o documentário O Dilema das Redes eu fiquei extremamente perturbada com o que os algoritmos andam fazendo com nossa maneira de pensar e agir. Ao mesmo tempo eu pensei: “Mas e se quem é do bem e fala coisas incríveis se calar? Vai ser ainda pior!!” Daí… (ixi, falei igual à Bozena, daí, rsrsrs), eu comecei a ser uma devoradora de conteúdos produzidos por pessoas que falam coisas incríveis e comecei a compartilhar suas mensagens no meu Stories. A seguir eu pensei de novo: “Tá, e eu também vou ficar aqui calada sem falar nada? Passivona no conforto do meu apê deixando o circo pegar fogo? NÃO!!! Eu não posso me omitir!” Arrumei coragem pra me equipar aqui com ring light, um canto legal e colocar a boca no trombone. Confesso que preciso de muuuuita energia pra produzir conteúdo num lamaçal de mentiras…

 

Vamos lá… mentir é dizer uma inverdade, é distorcer fatos, é fabricar fake news para confundir a cabeça do povo que não está antenado nas notícias. Pois é… não estar antenado, ligado no que REALMENTE está acontecendo nos leva a acreditar em tudo. Mentir é também enganar, ludibriar, enrolar, tudo de ruim. Mas será que omitir não entraria numa categoria “não dizer a verdade”, tão ruim quanto mentir? Sabe aquela história de falar em “mentira branca”, “melhor calar”, “não quero me posicionar”? Então… a polaridade das redes sociais nos levou para esse lugar: o limbo da omissão.


Outro conceito que eu quero discutir aqui é o auto-engano, ou seja, mentir pra si mesmo. Um exemplo disso é aquele tipo de pessoa que tá na lama, está no emprego errado, num relacionamento abusivo e continua dizendo pra si mesmo/a: “Não! Está tudo bem, estou ótimo/a!! A vida é assim mesmo. Ele/a vai mudar” ou “Imagina! Estou ótima! Esse emprego é necessário, logo eu me acostumarei aqui e quem sabe eu ganho uma promoção” ou “Eu tenho certeza de que fazer essa faculdade vai mudar minha vida!”, “Sempre sonhei em seguir a carreira dos meus pais. Vai ser legal, eles vão me apoiar, mesmo eu não gostando tanto assim!” ACORDAAAA!!! Um belo dia você vai acordar e perceber que mentiu pra si mesmo a vida inteira. Se liga!!! Bom, confesso que eu consegui não fingir pra mim mesma no campo profissional, mas na vida afetiva… aff…não posso dizer o mesmo…


Quando eu aprendi a perceber o meu próprio auto-engano, então pude perceber as mentiras do mundo e as omissões inadequadas da sociedade. Por que mentimos ou nos omitimos? Segundo o psicanalista Roberto Shinyashiki no seu livro A Carícia Essencial, ele ensina que nós, desde a infância, fazemos toda e qualquer coisa para amarmos, sermos amados e sermos reconhecidos. Ora, ora… não é isso que acontece com os que estão no poder?


Crianças carentes mal resolvidas que precisam amar, serem amados e reconhecidos? E não crescem!!! Porque adultos maduros que estão no poder supostamente deveriam ser vocacionados para liderar nações, sociedades e empresas. Adultos de verdade no poder estariam focados em ética, educação, saúde e bem estar social, como os grandes países de primeiro mundo (nem todos, infelizmente).


Mas então por que caímos no padrão omissão? Porque não queremos contrariar os amigos e familiares, querendo ser amados, e acabamos nos omitindo. Eu tenho visto inúmeras famílias sendo dilaceradas porque caíram nas mentiras da fake news e até hoje continuam acreditando. Então eu vou contar uma coisa que talvez muitos de vocês que estão lendo esse texto não saibam. No livro Engenheiros do Caos de Giuliano Da Empoli ele explica toda a história por trás da manipulação dos dados, feitas pela internet. Não é conspiração, é fato. Estou estudando linguagem de programação e ciência de dados. E nós estudamos os algoritmos de segmentação da propaganda que, por exemplo, o Facebook, Google, Amazon, etc, são capazes de fazer, Através da segmentação, os algoritmos podem levar a cada grupo de pessoas específico o que precisa ser levado. Vou dar um exemplo ainda mais concreto sobre esse sistema.


Existe um tipo de atividade profissional que é o analista de mídias sociais. Cada mídia, o Instagram, por exemplo (todos na verdade), produzem métricas sobre o engajamento de nossos clientes, assim como o tempo de tela sobre cada post, reels, stories, etc. Através do tempo que você gasta lendo ou observando um post qualquer, o algoritmo considera que aquele assunto é importante pra você e vai mandar mais conteúdos daquele mesmo tipo. Tudo que passa pelas redes sociais é considerado público (a princípio quando sua conta é pública, espera-se). Por ser público e como assinamos as micro letras do acordo de privacidade quando entramos naquela determinada rede social, nós autorizamos que tudo que está ali vá para o Big Data, que é um super complexo de computadores, localizado em várias partes do mundo, que armazena tudo!! Você vai me perguntar: “Eles ficam nos vigiando?” Na verdade, ninguém tem tempo de nos vigiar, considerando que a cada ano o Big Data dobra de volume. Sabe quanto de informação o Big Data cresce diariamente?



97 zettabytes >> 1 zettabyte = 1,0 × 1021 bytes

97.000.000.000.000.000.000.000 é o volume estimado de dados criados no mundo todo em 2022

Fonte: https://www.statista.com/statistics/966892/market-research-industry-big-data-analytics/


Quero trazer dois aspectos muito relevantes sobre esse tema. Um, com base no estudo de Feldman (2013) que analisa como os sentimentos constantes nas interações dos usuários ajuda as empresas a direcionar suas vendas inteligentemente. É o típico caso no qual pesquisamos um produto e a seguir somos bombardeados com produtos semelhantes em todos os lugares que visitamos na internet. Outro aspecto é trazido por Ahmad et al. (2019) que fizeram uso das ferramentas de análise de mídias para “detectar e classificar afiliações extremistas baseadas em mídia social usando técnicas de análise de sentimento no Tweet”. Sim, vocês ouviram, “análise de sentimento” com base no discurso, captado da linguagem escrita trocada pelos usuários nas redes sociais, que são abertas, públicas, vulneráveis a qualquer leitos, incluindo a inteligência artificial que capta tudo que é publicado livremente na internet.


Mas foi justamente a capacidade gigante de armazenamento e velocidade (entre outras características poderosas) do Big Data que essa captação foi possível. Do mesmo modo a sua análise, organização e processamento a favor de diversos interesses.


Bom, tendo dito isto, só nos resta três coisas: sair das redes, entrar em pânico ou tentar aprender como melhorar alguma coisa nessa situação. Uma delas é a NÃO OMISSÃO. É impregnar as redes com conteúdos construtivos. Talvez seja trabalhar em algum lugar que cuide da ética e da segurança das redes. Se envolver com a legislação nas redes e no uso indiscriminado da Inteligência Artificial.



Algumas vezes eu penso em morar no meio do mato longe de tudo… ah! não adianta… os satélites do Google vão descobrir onde estou…


Não tem mais volta. Estamos vivendo um momento de disrupção extrema e exponencial na história da humanidade. Vamos sobreviver a outras. Esta é mais uma e, como eu disse antes, o máximo que vai acontecer é o planeta desaparecer aqui e reaparecer em outra dimensão… quem sabe.


Mas enquanto isso não acontece, vamos parar de nos auto-enganar, vamos parar de mentir e vamos para de omitir. Esse texto foi uma manifestação da minha NÃO OMISSÃO diante de mais um aspecto das tecnologias que estamos vivenciando…

É isso…



 

REFERÊNCIAS


Ahmad, S.; Asghar, M.Z.; Alotaibi, F.M.; Awan, I. 2019. Detection and classification of social media-based extremist affiliations using sentiment analysis techniques. Human-centric Computing and Information Sciences, 9(1): 1-23. Disponível em: <https://hcis-journal.springeropen.com/articles/10.1186/s13673-019-0185-6>. Acesso em: 21 mar. 2023.


Feldman, R. 2013. Techniques and applications for sentiment analysis. Communications of the ACM, 56(4):82-89. Disponível em: <https://dl.acm.org/doi/fullHtml/10.1145/2436256.2436274?casa_token=uagoFZXcCEo-AAAAA:Pb4C_0l418DJQQcJrlO7fjrUGpoiDeOCHoq_9FG9vtEC2GhgS96tpvi9kH6XlZMbNBqcyrOTGixy>. Acesso em: 21 mar. 2023.


 

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